Capítulo 1230″Chegou a hora —” – o coordenador do velório deu uma olhada no relógio e, com uma voz
arrastada, anunciou: “Vamos fechar o caixão.”
Ao saber que o caixão seria fechado, Ofélia sentiu um aperto no coração de cortar o fôlego.
Quatro marceneiros, postados em cada canto do caixão, seguravam martelos e pregos, prontos
para começar o serviço.
Todos os presentes se organizaram em trinta filas e se inclinaram todos juntos em direção ao
retrato da moça.
O coordenador do velório murmurava: “Que as forças do bem nos guardem, que os anjos estejam
conosco, cada prego uma bênção, cada martelada uma esperança de dias melhores…”
novelbinNo instante em que o primeiro prego ia ser fixado, Ofélia, num ímpeto, empurrou seu esposo e
lançou-se sobre o caixão, gritando: “Não… não fechem…”
Reginaldo deixou as lágrimas caírem à vontade, escondendo o rosto com as mãos.
Agarrada ao caixão, Ofélia, chorando compulsivamente, questionava os muitos que estavam de
luto: “Será que não existe nem um pingo de dúvida, que talvez tenhamos nos enganado, que
Salete possa estar viva… Isso acontece, não acontece? A gente acha que a pessoa se foi, mas ela
está ali, respirando… Não dá para a gente checar mais uma vez?”
Nair Pires, com os olhos marejados, tentou levar Ofélia para longe, mas, ao vê-la tão arrasada, não
conseguiu.
“Eu sinto que Salete não partiu, ela não quer ficar aí presa, ela está pedindo socorro…” Ofélia,
ainda esperançosa, falava para quem estava perto: “Vamos abrir o caixão para conferir, uma última
vez!?”Sua amada filha talvez pudesse até se manifestar com a situação e com certeza teria forças para
abrir os olhos de novo.
“Senhora, deixe a jovem descansar” – o coordenador do velório sugeriu: “Abrir o caixão de novo
seria falta de respeito.”
“Não, ela não está morta! Acreditem em mim, ela de fato ainda está viva… Vamos abrir para ver…”
Ofélia dizia quando, de súbito, notou uma silhueta esbelta atrás de si.
Ao ver Isabella, exclamou emocionada: “Isabella, de todas as pessoas aqui, você é a única em
quem confio. Pode verificar para mim se Salete ainda está viva? Eu vou pedir para abrir o caixão.
Você poderia dar uma olhada?”
Isabella, transbordando compaixão, estava prestes a responder.
“Por favor, tia…” – Ofélia estava quase se ajoelhando.
Se Isabella não a tivesse segurado a tempo, ela já estaria de joelhos…
“Você pode ver para mim se Salete ainda respira, eu tenho um pressentimento muito forte, ela
pode ser salva… sério!” – Ofélia, agarrando a mão de Isabella com os olhos cheios de lágrimas,
implorava: “Querida, ajuda sua tia a ver…”
Isabella olhou para o lado, onde os olhos de Reginaldo ainda brilhavam com um fio de esperança,
ecoando o mesmo desejo de Ofélia de que a filha estivesse viva…
Os parentes da Família Campos choravam baixinho, sem se aproximar para interceder.
Os convidados mantinham-se em silêncio, com as cabeças abaixadas.
O coordenador do velório virou o rosto, tentando ocultar o brilho úmido em seus olhos.Célio observava o perfil da jovem, como se antecipasse sua decisão.
“Tudo bem.”
Com essas palavras de Isabella, Ofélia ordenou de imediato: “Abram o caixão —”
Sua voz estava carregada de emoção e certeza, como se já tivesse certeza do renascimento de
sua filha.
Quando a tampa do caixão foi aberta, Salete jazia lá dentro, vestida com esmero, rosto sereno.
Quando Isabella tocou o pulso de Salete, sentiu a pele macia.
Esse fenômeno é conhecido como “livor mortis”.
Após a morte, a tensão muscular desaparece completamente, resultando em músculos relaxados e
macios.
Não só o corpo estava macio, mas também frio ao toque.
Era o “algor mortis” – uma frieza que só se manifesta nos mortos.